9.5.08

555

ver o dia vir

o dia passar

quantas vezes

e depois

da decapitação

viver para quê

se todos se foram

saíram pela porta

pela janela

pelo telhado

ou fui eu que caí num buraco

numa cova

e esqueci de dizer-me que não era defunto

e deixei que eu me jogasse tantas pás de terra sobre mim

mantive a boca fechada

talvez eu estivesse dormindo

decerto

até que enfim algo certo nesta vida

a incerteza

que tudo mais é nublado

o império do meio-termo

eu sem saber se sou eu se sou alguém mais se sou ninguém

apenas com esta irritante vaga sensação de existência

insistindo

contra minha vontade

lutando contra deus

só para que deus seja feliz

e permaneça em seu trono de indiferença e satisfeita solidão

sofrer não é atribuição dele