1.4.08

517

tudo que se vê já deixou de ser

os olhos só nos mostram o passado

não sei se isto a todos assusta

não sei nem se a mim

ficar aqui

olhando a correnteza

para o lado que já passou

a vida em seu passo de velha

nunca parando

como eu também gostaria de viver

para eu existir bastaria a existência alheia

ninguém precisaria fazer mais nada

minha existência simplesmente consistiria no fato de um outro existir

eu não precisaria ser co-autor de minha ruína

ao contrário do que acontece neste simulacro de liberdade

a morte devia ser um estado em que nos puséssemos quando nos conviesse

e do qual saíssemos quando nos parecesse melhor

tudo na vida devia ser assim

fruto de nossa vontade declarada

sempre

como é horrível ser brinquedo do acaso