5.7.07

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não passo de um animal

que anseia o sublime

que acredita que o sublime pode ser tudo

menos isto que me circunda

menos onde eu esteja

que repete momento após momento a mesma palavra o mesmo gesto

deus deus deus deus

sinal da cruz sinal da cruz sinal da cruz

por que a vida haveria de ser tão chata

vá saber

são as pulsões do medo

fico paralisado pensando no que poderia

chego sempre a conclusão nenhuma

e digo para mim que a graça do negócio é esta

a mumificação do pavor

rio porque é sério

tudo praticamente sempre apresenta uma calma impossível

mas dentro de todos reside uma bomba

a prazo perdido

não se sabe quando

hoje ou nunca

devo viver preparado para uma experiência única

enquanto todo dia repito todas as mesmas santas coisas

nas mesmas horas

com as mesmas pessoas

sempre no mesmo lugar

eu

que não posso parar de ser eu