26.7.08

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juro que em minha cabeça havia até há pouco palavras até belas

para expressar o amargor que sinto

mas passou

ou melhor

passaram

as palavras

ficou a coisa

a carga o fardo a mala enorme este baú infinito e negro de uma escuridão que cega e deixa a sensação de que tudo passou de que cheguei depois de que só venho para o fim

não há palavra

não há nem eu que valha a pena olhar

estou vivo por acaso

estou vivo por engano

tecnicamente vivo

a prova é que vivo matando

e para matar

só vivo

meu corpo

depois de morto

pode até matar

transmitindo doença ou caindo sobre alguém

mas então será apenas um corpo um objeto inanimado movido pelo acaso ou por uma vontade qualquer

não pela minha

que somente vivo

posso matar