9.4.07

159

viver os últimos quarenta anos foi meio igual demais

ao menos da parte que lembro

há outra

que vagamente se gravou

lembranças mais antigas

seres aparições presenças

fascinante e aterrador

um mundo que acelerava meu coração

um mundo que parecia de poucas palavras

absolutamente meu e real

do qual sem perceber fui esquecendo

foi como morrer

e nem notei

simplesmente entrei de cabeça numa porta aberta

eu queria ser adulto

levei-me por aparências

pensei que usaria os poderes dos mais velhos melhor que eles

expus-me ao ridículo

quis vingar-me

feri quem nada tinha me feito

ainda firo

perdi o mundo só meu

em troca deixei de me pertencer

tornei-me adepto da raiva

da justiça mesquinha

do desejo sem satisfação

aprendi a perder o sono e a dormir sem querer

formei idéias a meu respeito e a respeito do mundo

as quais chamo razão