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viver os últimos quarenta anos foi meio igual demais
ao menos da parte que lembro
há outra
que vagamente se gravou
lembranças mais antigas
seres aparições presenças
fascinante e aterrador
um mundo que acelerava meu coração
um mundo que parecia de poucas palavras
absolutamente meu e real
do qual sem perceber fui esquecendo
foi como morrer
e nem notei
simplesmente entrei de cabeça numa porta aberta
eu queria ser adulto
levei-me por aparências
pensei que usaria os poderes dos mais velhos melhor que eles
expus-me ao ridículo
quis vingar-me
feri quem nada tinha me feito
ainda firo
perdi o mundo só meu
em troca deixei de me pertencer
tornei-me adepto da raiva
da justiça mesquinha
do desejo sem satisfação
aprendi a perder o sono e a dormir sem querer
formei idéias a meu respeito e a respeito do mundo
as quais chamo razão
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