4.12.06

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mais um dia em sacrifício ao deus trabalho

na verdade quase não trabalhei simplesmente sentei à mesa e dediquei-me à nem sempre sutil arte de enganar

não uso o subterfúgio da retaliação pelo salário miserável

pelo menos aqui escrevendo coisas para ninguém ler sinto-me obrigado a ser sincero

e sinceramente odeio trabalhar

odeio ter o direito alheio em minha mão

logo quem

logo eu que só queria sono

um sono incoercível interminável

esquecer o peso de existir

esquecer que eu também fiz minha parte para um mundo mais infeliz

estes fantasmas são como cupins na alma

6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Henrique, querido...

Hoje deu pau no blogg, não sei o que aconteceu...

Henrique, eu sinto no que você escreve uma intensa dor, um descontentamento em relação à vida e também aos seus aspectos maçantes...


Não sei se bem me expresso, estou com dor de dente. Estou com mil mini probleminhas aqui, mas não entendo o que estes caras falam, ou eles não falam mesmo nada que preste... alemão é de poucas palavras, em geral.


O dentista pelo que entendi disse pra esperarmos meu dente pifar e daí ele será arrancado... talvez um dentista brasileiro salvasse este dente, mas também não tenho referencial pra dizer nada...


Henrique, eu passo por uma profunda crise existencial... portanto entendo o que você escreve... mas procuro sempre tirar sarro das coisas, divertir-me com bobagens que eu curto (você conhece algum maluco que fica procurando anemômetro pra comprar?)...


Putz, preciso me encontrar Henrique, não importa como... eu sinto muito desamparo, sabe... e estou muito P. da vida mesmo, você não imagina quanto, com alguém que faz parte de minha família... E o ódio me deixa doente, não me faz bem não... por isto preciso meditar...


Nossa, tem coisas que não posso escrever aqui... só por mail mesmo, pois a Net é pública...



Abração (hoje está impossível salvar comments no blog, espero que a situação volte ao normal até amanhã, ou teremos perdido todos os comentários desde julho deste ano... Não sei o que ocorre, mas eles lutam sem sucesso contra o spam... melhor seria um sistema de letrinhas como no seu blog...




Sua amiga um tanto tristonha... (eufemismo)



Verinha Rath.

8/12/06 14:29  
Blogger o amanuense said...

Vera, minha querida
Para te ser sincero, não sei até que ponto escrevo o que escrevo por tristeza, por dor propriamente, e até que ponto escrevo o que escrevo por raiva, por simples desejo de afrontar. Sim, porque noto nas pessoas uma compulsão para o bem-estar que me enoja. Muitas vezes parece-me que todos falam de coisas "positivas" não para ajudar o semelhante a ter ânimo, mas simplesmente porque não querem ser mal vistos. Então, só de pirraça, falo mal, falo cobras e lagartos, ofendo um deus que nem sei se existe porque, na verdade, quero ofender esses bocós da ditadura do alto astral.
A bem dizer, já faz um bom tempo que não me sinto triste de verdade. Minha vida até que tem sido legal ultimamente, não tenho muito do que me queixar. Este meu pessimismo compulsivo é mais um ato de protesto contra essa polícia do pensamento positivo, que quer nos obrigar a varrer para debaixo do tapete nossa angústia existencial. Porque, para mim, a vida, mesmo quando boa, é um permanente diálogo com nossos medos, medos de morrer, de adoecer, de ter medo, etc., e acho que dar as costas para isso só piora tudo.
Por isso, as coisas que coloco aqui têm muito a ver até com uma postura política num sentido amplo, pois detesto a política institucional.
Vera, essas coisas de família são dose. Caso você queira, mande-me um e-mail para desabafar.
Sabe que ando meio defasado em minhas navegações na rede? Represento meu pai num processo contra a Cassi. Odeio advogar, mas a Cassi está querendo aprontar uma filhadaputice muito grande com o velho e, para evitar que ele caísse na mão de um pilantra que só lhe arrancasse dinheiro, resolvi representá-lo nessa causa (tenho uma amiga advogada que assina as petições, pois por lei sou proibido de advogar, mas quem faz tudo, na verdade, sou eu). Pois bem, nesta semana descobri que a Cassi estava descumprindo uma ordem judicial e tive que fazer uma representação ao juiz da causa, o que me tomou um tempão. Por causa disso, deixei de fazer postagens aqui no blog e não entrei no seu blogg nos últimos dias, é uma pena que você esteja com problemas nele. De fato, havia muito spam, acho que o captcha é o único antídoto eficiente.
Beijo do
amanuense

9/12/06 14:31  
Anonymous Anônimo said...

Henrique!!!

Nossa, temos aí um ponto em comum: eu também não agüento mais esta pseudo-filosofia do "pensamento positivo" que impera por aí...


Na realidade acabo reagindo a isto de uma maneira agressiva. "Ditadura do alto astral"... poxa, você conseguiu definir bem a coisa, Henrique!


Eu erroneamente talvez costumo usar o termo politicamente correto e o seu oposto - o não-politicamente correto pra me referir àquelas pessoas que vivem a vida como se estivessem numa "propaganda de margarina", como disse a Inaê, no blog... e aqueles que vivem questionando o status quo.


Sei que este termo foi usado historicamente com um outro significado, que pela minha ignorância e talvez desinteresse mesmo de história, não conheço muito bem...

Eu achei bárbaro o que você escreveu aqui: "Este meu pessimismo compulsivo é mais um ato de protesto contra essa polícia do pensamento positivo, que quer nos obrigar a varrer para debaixo do tapete nossa angústia existencial. Porque, para mim, a vida, mesmo quando boa, é um permanente diálogo com nossos medos, medos de morrer, de adoecer, de ter medo, etc., e acho que dar as costas para isso só piora tudo."


Nossa, Henrique... e quando a coisa pega, então... você vê que inutilidade têm estes pensamentos...


Eu li muito um filósofo chamado Krishnamurti, que questiona qualquer tipo de religião, de busca, ele tem um ponto de vista com o qual eu me identifico em vários aspectos.


Recentemente interessei-me por Osho, que criou uns tipos de meditações peals quais interessei-me, mas... eu percebo também por parte de alguns membros um sectarismo com o qual não coaduno. Ele era um mestre dos indicisplinados, mas para mim indicisplinado não precisa de mestre nenhum...


Já Krishnamurti não... ele se contrapunha a qualquer tipo de relação mestre-discípulo, a qualquer religião, etc...


Sabe, Henrique, eu me sinto barbaramente só. Não falo com ninguém, a não ser com a caixa do supermercado quando estou pagando ou quando pergunto por algum produto (coisas que os alemães não fazem). Ou quando ligo ao Brasil...


Mas ultimamente ando tão desanimadinha, que por vezes não tenho coragem de ligar para as pessoas que mais gosto...


Estou inclusive um pouco rouca, ou pelo menos eu sinto dificuldade para pronunciar a primeira palavra. Parece que minhas cordas vocais atrofiam por falta de uso...


Eu confiaria sim em você para soltar os cachorros que estão loucos e acabando por me morderem... a raiva faz muito mal, Henrique. Ela nos corrói internamente, quando não sabemos trabalhá-la (falo agora de mim mesma).


Mas pode deixar que em algum momento vou desabafar sim, se bem que estou buscando paz... existem armações contra mim meio graves... mas como estou só na Alemanha preciso tomar um ar.


Esta semana eu tive medo de morrer subitamente, e não pela morte em si, mas fiquei preocupada com meus gatinhos.


Pois uma certa pessoa da família odeia gatos... e se eu morrer... aliás, esta pessoa me odeia também... e se eu morrer...


Talvez eu refaça um testamento que fiz. Mas não quero ter tanta pressa, acho que não vou pifar tão cedo... mas se eu precisar de alguma futura assistência jurídica (no momento quero realmente paz) pode deixar que vou te encher o saco...


Acho que vou mandar uma cópia de um mail que mandei a uma pessoa da família ontem... ou faço um especial pra você...


Bem, quanto ao seu pai, que sacanagem esta da CASSI! Que povo filho da puta! Como eu saí do banco com raiva de lá, Henrique... como não tenho saudades daquela bosta.


OK, tive meus anos doirados lá, quando trabalhei com um pessoalzinho diferente da maioria, a gente trabalhava com incenso e meu amigo tocava viola de manhã... mas estes tempos acabaram...


Bem... depois eu converso mais com você, querido... sabe, quando vejo que muitos de nossos amigos agora são distintos senhores pais de família, muitos que antigamente defendiam chavões marxistas leninistas... quando vejo como as pessoas são desfiguradas pelo sistema e por esta idéia podre de família... fico aliviada em ver que alguns escaparam. Os malas extraviadas, como eu, como você... e como meu Stefaninho, que era sobretudo um sonhador anti-establishment.


Super abraço, por vezes penso em te ligar, mas não sei o horário, não quero atrapalhar... e por vezes não consigo mesmo (estou com o que alguns chamam de depressão, mas que eu prefiro não rotular).



Sua amiga




Verinha Rath (assino Rath em homenagem a Stefan e por ser a última da família, já te disse?)

9/12/06 18:28  
Blogger o amanuense said...

Minha amiga
Querendo ligar, é só ligar. Durmo tarde, nunca antes da meia-noite, e será um prazer uma ligação sua.
Esse negócio de solidão total é fogo. Não sou muito chegado a seres humanos, mas viver sem contato mais próximo com ninguém também deve ser muito difícil.
Que coisa chata essa história da sua família. Só como informação básica, segundo o direito brasileiro, a única pessoa que no momento necessariamente seria sua herdeira é sua mãe. Ou seja, caso a Dona Emília faleça antes de você e você não case novamente, ou só case após os 60, seus bens estão a sua inteira disposição para testamento. Se você não dispuser em testamento, seus parentes até o 3º grau (tios e sobrinhos) poderão herdar. Creio até que você possa instituir um fundo em favor dos gatinhos para ser administrado por alguém de sua confiança ou testar mediante condição (tipo fulano herda tanto se cuidar dos pimbolzinhos até a morte deles), porque, mesmo havendo os chamados herdeiros necessários (filhos, cônjuge ou genitores, nessa ordem), você ainda tem a livre disposição de metade de seus bens.
Isso são só informações básicas, pois melhores explicações creio que só conversando, senão complica muito; é como a causa do meu pai contra a Cassi (também odeio o bb), é uma coisa até simples, mas se explicar por escrito dará um livro. Também são informações, evidentemente, baseadas no direito brasileiro; o direito alemão, pelo pouquíssimo que sei, parece que dá mais liberdade de dispor a quem testa, ou seja, seria talvez mais vantajoso para você.
Vera querida, desculpe a demora para responder, é que andei meio atulhado de coisas. Precisando, use-me e abuse-me.
Beijo

11/12/06 23:28  
Anonymous Anônimo said...

Querido Henrique...


No momento te dando um alozinho de que li o que você escreveu e te agradeço!

Existem algumas diferenças entre o direito alemão e brasileiro sim, acredito que o alemão me dê mais direitos.


Aqui um testamento de próprio punho, privado, sem registro em cartório é perfeitamente válido. E foi um destes que fiz... (eu fiz...) mas ... bem, não posso mesmo escrever mais aqui.


Espero não morrer tão cedo pra poder decidir tudo.


Qual a hora mais cedo pra te ligar um dia (eu estou sempre adiantada em relação a você, agora 3 horas... quando aí é oito da noite, aqui é onze, por exemplo...)...?


Eu por vezes tenho dificuldade de falar, Henrique... acho que perdi o hábito... mas há momentos em que eu me animo e desando!!!


Eu teria o meu vizinho Helmut pra conversar, ele curte bastante... quando nos encontramos não ficamos juntos menos do que duas horas... mas conversamos em alemão, lógico... ele e a gerente do banco onde tenho conta são meus melhores amigos aqui.


Bem, vou fazer meu training, já fui ao cemitério colocar a velinha... sei que Stefan não está lá, mas desde que sua urna chegou tenho ido todos os dias lá... sinto também que preciso orar em casa (tenho um altar budista, aquele budismo que sua mamy me ensinou...)


Bem... depois tornaremos a "nos falar"...



Tenho uma preguiça mortal de fazer ginástica...



Beijos,



Verinha Rath.

12/12/06 10:25  
Blogger o amanuense said...

Quer dizer que, quando aí são duas da manhã, aqui são onze da noite. Costumo chegar do trabalho umas oito e meia da noite (onze e meia para você).Então, no horário daí, você pode me ligar sem problema entre 23h30 e 2h. É muito raro eu sair à noite, quando saio, normalmente é às sextas ou aos sábados.
Abracinho,
Henrique

12/12/06 14:15  

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