8.12.08

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para mim viver

creio poder dizê-lo

é uma sucessão de medos

não me lembro de um instante mínimo

em que eu não estivesse a me borrar de temores

a vida tem passado assim

não é divertida

nem sei bem se é vida

mas é a vida por que tenho passado

algo

não me alegra nem me orgulha

algo

como eu

que existe

mas que ao contrário de mim

não dorme

a qualquer hora está lá

de pé

plantado

pronto para ocupar o espaço reservado ao sentimento

é assim que sinto medo

ameaça

abandono

assim surge em qualquer vida

creio

a necessidade doentia corrosiva de ser amado

inventam-se certezas

como deus