19.5.07

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o que desejamos é a certeza do fim dos julgamentos

que além de certo ponto não possam nos invadir

por questões justas ou injustas a nos prostrarem

a fazerem de nossas cabeças praças de guerra

de nosso cansaço o alimento de toda raiva

olhe dentro dos ônibus

paralelepípedos sobre rodas

com áreas transparentes

que mostram a infelicidade lá de dentro para a infelicidade aqui de fora

as coisas mais visíveis são as que menos identificamos

as que mais acontecem podem ser as mais estranhas

como a morte

que podemos tantas vezes ver

até que venha a nossa

e será como se nunca a tivéssemos visto

uma experiência única para nós

um fato a mais para o resto do mundo

nada que perturbe a atmosfera de indiferença

um sujeito morreu

qual

aquele alto e barrigudo que fumava cachimbo usava canetas-tinteiro e não cumprimentava ninguém

deixou viúva e dívidas

levou consigo sua raiva e sua maledicência